Em um momento atrás, na
época da escravidão, mais precisamente na Bahia, viviam duas sinhás e cada uma
tinha a sua fazenda. Uma se chamava Marlene e a outra Genova. Havia muitos
negros de ambos os lados. Na fazenda da Marlene vivia um capitão do mato que
gostava muito da sua sinhá e fazia tudo o que ela queria. As duas sinhás tinham
inimizade. Nunca tinham se dado bem. As duas eram viúvas.
Um dia, a sinhá Marlene
pediu para o seu capitão do mato espionar a outra fazenda para saber por que os
negros de lá eram tão bem tratados. Ela se perguntava: “Por que é que aqueles
negros são tão bem tratados ali? Aquela danada está achando que pode ser melhor
que eu? E que pode tratar melhor os negros, só para se aparecer?” Então
ordenou: “Vai lá!” E enviou o seu capitão do mato para espionar. - “Vai lá e
fica sondando para ver porque ela trata tão bem os negros dela.” Então, o
capitão dava um jeito e ficava olhando de longe, porque não podia entrar na
fazenda da outra.
A sinhá Genova tinha uma
filha chamada Malu, que era uma jovem em seus dezoito anos. E um dia, o capitão
do mato enviado da Marlene foi novamente sondar o que estava acontecendo
naquela fazenda. Malu estava passeando e o viu sondando. Nesse dia, ele entrou
na fazenda e ficou observando de longe. Então Malu foi perguntar-lhe o que
estava fazendo. Ele, assustado, respondeu que a sinhá Marlene mandou-o observar
a fazenda e ver por que eles tratavam tão bem os seus negros. Ela então explicou:
“Mamãe nunca foi ruim. Papai morreu, mas deixou um legado dizendo que
deveríamos tratar bem os negros. Já que são muito sofridos, então vamos
tratá-los bem.” O capitão quis saber mais: “Tem mais alguma coisa que você
possa me dizer para que eu leve lá para ela?” Malu explicou: “Sinceramente, eu
nem poderia estar conversando com você aqui.”
O capitão do mato era um
belo jovem de trinta e dois anos e no decorrer da conversa percebeu que Malu
era muito bonita, e falou-lhe isso. Ela não escondeu o sorriso no rosto por
tê-lo achado bonito também. E disse-lhe: “Olha, você não venha se engraçar para
o meu lado não, viu? Se a mamãe... Ai, se ela te pega! Você nem era para ter
entrado na fazenda.” E ele retrucou: “Você é uma menina bonita, não é verdade?”
E ela disse-lhe (com um sorriso sapeca no rosto) que se tirasse a barba e
vestisse umas roupas mais decentes, ficaria bonito também. Depois disso,
tiveram uma pequena discussão porque o capitão do mato começou a elogiá-la
demais e ela o mandou embora: “Sai da minha fazenda! Sai! Se não, vou contar
para a mamãe.” Logo em seguida, Malu foi chamada pela negra/vó que cuidava
dela, a “Voinha”. E o capitão do mato informou-a que iria voltar para vê-la. E
se foi.
A sinhazinha Malu ficou
encabulada… Ao mesmo tempo em que se irritou muito pelo capitão do mato chamado
Jeroni, também ficou encantada com ele. Enquanto Malu ia em direção à Voinha, o
outro capitão do mato chamado Erosti, este da fazenda dela, encontrou-a no
caminho e perguntou-lhe porque estava tão ofegante e encabulada. Ela meio
irritada disse: “Não te importa, Erosti! Não te importa! Deixe-me!” Ele gostava
muito dela… Era realmente apaixonado, mas a moça não lhe dava nenhuma atenção.
Ela tinha algum sentimento dentro dela que a mandava ficar longe dele, e ela
não sabia o porquê. (Em um certo momento, quando tinha apenas quinze anos, um
espírito havia incorporado em algum dos negros e mandou chamá-la para
contar-lhe algo. Chegando lá, o espírito disse a ela que aquele jovem, um dia,
no futuro, lhe traria dor e ela ficou encabulada com isso e, deste então,
tentou manter distância dele, a todo momento.)
Na fazenda da Genova e Malu,
havia realmente muitos negros e todos eles eram muito bem tratados, muito bem
cuidados e recebiam as devidas atenções. Tinham suas horas de descanso justas e
suas alimentações eram corretas. Dentre eles havia um negro chamado Ajóh, que
era o mais velho dentre os homens. Muito respeitado ali, era como se fosse o
mentor para todos os demais negros e era também muito respeitado pela sinhá e
pela sinhazinha. Ele tinha como mentor um ser de Luz chamada Hádama que sempre
o instruía e passava-lhe recados para transmitir a todos ali.
Na outra fazenda, a da sinhá
Marlene, os negros não eram muito bem tratados. Ela tinha um pulso firme e se
perdia muitas vezes pelas energias pesadas, devido a ter o coração amargurado
por conta do relacionamento com o falecido marido. Ele havia maltratado-a em
todos os níveis, tornando-a uma sinhá rebelde e amargurada. Ela cansou-se dos
seus maus-tratos físicos e emocionais e o envenenou, ficando com toda a fazenda
e demais negócios. Jeroni, o seu homem de maior confiança, seu capitão do mato,
era o único que conseguia acalmá-la, pois ela o respeitava e também nutria um
certo sentimento por ele e ele por ela, até… Até conhecer a sinhazinha da outra
fazenda, “a branquelinha Malu”, como Marlene a chamava, pois já a havia visto
em algumas ocasiões. Por ela ser filha da Genova, seu desafeto, decidiu
estender sua repulsa à jovem moça também.
Dentre os muitos negros da
fazenda da Marlene, havia um casal, ela chamada Negra Terê e ele Negro Agorá.
Ambos eram como líderes entre os escravos daquela fazenda. Havia também outros
que se destacavam por suas inteligências e estratégias para fugir das mãos da
sinhá Marlene. Entre eles estavam os negros Tizeu, João, Jezi, Tiza e mais duas
negras, a Kakia e a Merena. Estavam sempre “bolando” planos para fugir das mãos
da sinhá. Nesta fazenda sempre havia muitas visitas “dos homi branco”, como
diziam os escravos. Dentre eles estava o Coronel Esseldis. Rico, poderoso,
inteligente e muito persuasivo. Sempre que entrava na fazenda, as negras o
temiam muito, pois, muitas vezes, obrigava-as a se deitarem com ele, na hora em
que ele quisesse. O Coronel, sempre acompanhado do seu assistente Jeremias,
logo que ia entrando na fazenda, já ia dizendo… “quero aquela, aquela e aquela
hoje. Vai lá, meu menino, prepara o ‘rango do véio’”- e dava uma risada irônica
que atraía as mais densas energias, que nem ele mesmo conseguia imaginar.
Os negros desta fazenda
ficavam furiosos com o Coronel, mas não podiam fazer nada, pois ele era
protegido da sinhá Marlene. Ele sempre conseguia bons negócios para ela e ela
“estava nas mãos dele”, por essa razão. Quando ela, por algum motivo, começava
a se irritar com ele por qualquer coisa que fosse, logo ele “dava-lhe a volta”
trazendo “boas novidades” e ela logo se perdia, e já estava nas mãos dele, de
novo. Uma das vontades do Coronel era conseguir fazer negócio com a sinhá da
outra fazenda, a Genova, com a qual nunca teve uma única chance, mas era muito
apaixonado por ela. E era outro fato que
a Marlene, mesmo fingindo não saber, se corroía, pois tinha Genova como a sua
principal inimiga. O Coronel havia conhecido a Genova em uma das suas viagens
em busca de comprar escravos, e ali se encontrou com ela “por acaso”,
conversaram um pouco e ele soube que era ela a sinhá que a Marlene tanto
odiava. Mas o Coronel nunca conseguiu entrar na fazenda dela, pois esta não o
queria lá por dois motivos: sabia que ele era um aproveitador de moças e, por
ser muito sensível às energias, via as cargas negativas em volta dele.
Voltando à fazenda da
Genova... Lá vai mais uma vez Jeroni, o capitão do mato de Marlene, tentar “espiar”
as coisas, mas agora ele estava indo atrás da sinhazinha Malu… Ela já sentindo
que ele apareceria por ali naquele dia foi lá para o mesmo canto em que o viu
pela primeira vez. (“Danada!” - Disse Voinha, ao longe, quando viu a Malu se
deslocando para o mesmo lugar em que ela já havia visto os dois conversando…
Risos...) E, pronto! Era cerca de dezessete horas e lá estava Jeroni. Chegou, e
ficou ali sentado, esperando por ela, pois de alguma forma, sabia que ela
também iria chegar. E chegou. Usava um lindo vestido na cor pérola, botas
marrons e usava um guarda-sol. (Fato que fez Jeroni rir, pois não havia mais
sol algum). Seus cabelos eram castanhos escuros, caídos nos ombros. Ele era
meio carrancudo, como ela mesma já o havia dito. Barbudo, olhos claros, moreno
claro, mal vestido e meio desajeitado. Ela chegou e eles ficaram se olhando.
Depois de uma pausa, ela disse: “Bem, vou-me. Nem sei o que vim fazer aqui!” E
ele puxou-a pelo braço e a beijou. Ela não mostrou resistência. Ficaram ali se
beijando e a Voinha, ao fundo, via tudo. Quando viu a cena arregalou os olhos e
pensou “Jesus Cristo! Virgem Santa! A sinhazinha ficou louca! Tá se enroscando
com o capitão do mato da Marlene! A sinhá vai ficar louca quando souber!
Cala-te! Cala-te! Não serei eu que direi uma palavra! Oh, não! Não direi!”
A noite foi caindo. Já era
mais ou menos 19h30min e a lua estava grande, clara e via-se muito bem a
paisagem, por conta da claridade. Jeroni disse que levaria Malu até a casa
grande, o que ela, espevitada, contestou: “Nunca! Se mamãe o vir, ela mata você
e eu! Vou-me só, com meus próprios pés! E você deveria ao menos cortar essa
barba. Estou toda arranhada! Agora sim que vou arrumar problemas com a mamãe!
Que vou dizer a ela?!” E Jeroni rindo saiu meio correndo dizendo: “Diz a ela
que caiu com a cara no chão!” E ela brava, jogou-lhe tocos de madeira velha que
estavam ali no chão. Mas não escondia o sorriso no canto da boca. Estava
apaixonada. Ela foi correndo para casa e a Voinha vendo tudo, estava
aguardando-a na entrada da casa grande.
Chegando lá, Malu encontrou
a Voinha bem na entrada que, rapidamente, já foi pegando-a pelo braço… “Menina,
menina, menina de Jesus! O que tu foi me aprontar, menina? Eu vi tudo. Se a tua
mãe descobre, estamos eu, você e ele no tronco, para sempre, menina!”. Malu
sorrindo e com ar de sapeca disse: “Nada, Voinha! Nada! Lá, lá, lá…!” E entrou
cantarolando em casa. A sinhá estava no quarto, pois não se sentia muito bem e
passou o dia deitada. Ouvindo o cantarolar da sinhazinha, mandou a Negra Gera,
que cuidava dela no quarto, chamá-la. “Vá até Malu e diga-lhe que a chamo aqui.
O que será que essa menina tem hoje?…” Disse isso, achando estranho vê-la
entrar cantarolando daquele jeito. Ela não tinha o costume de fazer aquilo e a
sinhá era muito sensível às energias e sabia, de alguma forma, que tinha algo
no ar. Malu entrou no quarto da mãe e disse: “Mamãezinha! Ainda não melhorou?”
“Mamãezinha!?” - Perguntou sinhá. “Você nunca me chamou assim, Malu! Eu sei que
você me ama, filha, mas o que você tem? Deixe-me ver… Algo picou você. Está com
febre? Doente? O que há?!” Malu ria com muita meiguice e dizia: “A senhora anda
desconfiada demais, mamãe! Vá descansar!” Saiu do quarto rindo enquanto a
sinhá, com uma “baita pulga atrás da orelha”, tentava entender o que estava
acontecendo.
Malu estava feliz e a
Voinha, de certa forma, também, pois nunca vira sua menina tão radiante, mas o
capitão do mato Erosti não… Ele também havia visto tudo. Viu a sinhá “aos
agarros” com o capitão do mato da outra fazenda. Estava duas vezes furioso: uma
por ser apaixonado pela sinhazinha Malu e outra por não gostar nada da sinhá
Marlene e do Jeroni. Pensava ele: “Maldita! Mandou esse infeliz aqui para
roubar minha menina! Desgraçada! Infeliz! Darei cabo dela o quanto antes. Ela
me paga, me paga!” Saiu esbravejando quando viu Malu e Jeroni se beijando. E
ali começaram os problemas…
Dias depois, o negro mentor
da fazenda da Genova, irradiado com o seu mentor Hádama, mandou chamar a sinhá,
a sinhazinha e também a Voinha para conversar. Disse-lhes que algo iria
acontecer e que todos deveriam procurar se harmonizar, para impedir
acontecimento pior minimizando seus efeitos, pois tudo dependeria do
livre-arbítrio de uma pessoa. Se ela não fizesse o que estava pensando em fazer,
tudo ficaria bem, mas se fizesse, teriam problemas. Ele não podia dizer quem
era a pessoa, nem explicar mais, pois tudo precisaria se desenrolar através de
livre-arbítrio e havia ajustes acontecendo ali. Pediu que orassem e se
conectassem com o índio guardião, que era uma espécie de mentor de todos eles,
inclusive da sinhá Marlene e do Coronel da outra fazenda.
Erosti, o capitão do mato de
Genova, um dia chamou uma das negras da fazenda que sabia “letra” (sabia
escrever algumas coisas) e pediu que ela escrevesse o que ele iria ditar. Ela
escreveu com os olhos arregalados, mas foi escrevendo. Dobrou o papel e
entregou a Erosti que, fazendo sinal para ela ficar calada, seguiu guardando o
bilhete no bolso. Dias depois, a sinhá Genova mandou Erosti à feira, como
sempre fazia, para comprar algumas coisas. Erosti sabia que lá sempre
encontraria a Marlene, pois ela ia, justamente, no mesmo dia que ele. Chegando
lá, ele a viu ao longe. Marlene conhecia Erosti. Sabia que ele era da fazenda
da Genova, logo Erosti não poderia chegar ali e, simplesmente, entregar o
bilhete nas mãos dela, pois Erosti também não a suportava e, de alguma forma,
não queria se complicar com a sinhá Genova. Então, observando, Erosti viu as
duas negras que sempre acompanhavam Marlene junto com outros dois negros altos
e fortes, como se fossem seguranças dela (Marlene não era muito querida nas
redondezas) e viu Jeroni, que também sempre a acompanhava. Uma das negras, a
Jara, cruzou rapidamente o olhar com Erosti. E, meio afastado, Jerosti mostrou-lhe
o bilhete. Ela não entendeu bem, e ficou olhando. Ninguém mais via a cena, só
Jara, que era também era muito discreta. A negra Jara disse à sinhá que
precisava ir ao banheiro. Sinhá Marlene deixou, mas Jeroni foi junto para ficar
observando. Jara foi um pouco mais afastada no mato e Jeroni ficou aguardando
um pouco, mantendo uma certa distância. Eram negras muito fiéis e não ousariam
tentar fugir, pois também não teriam para onde ir. De alguma forma, Erosti deu
a volta e encontrou-se com Jara. Chegando perto dela, disse-lhe: “Agradeço por
ter vindo”. E ela, meio assustada: “Quem é você? O que quer?!” “Preciso que
entregue esse bilhete à sinhá Marlene. Diga-lhe que uma mulher lhe entregou!”
“Uma mulher!?” - Disse ela - “Mas você é homem!” “Ahhhhh!!! Sim, sou! Mas faça
o que eu disse!” Negra Jara ficou ali, pensativa, e Jeroni já gritava do lado
de fora do mato… “Vamosssss, Jara! A sinhá já está olhando feio aqui. Vamos!”
Jara pegou o bilhete, dobrou-o na mão e o levou. Erosti também “saiu de fininho”
e voltou para a fazenda da Genova, torcendo para ela entregar o bilhete.
No caminho, Jara abriu o
bilhete. Não sabia ler e ficou tentando entender o que estava escrito ali.
Pensou muito se o entregaria ou não à sinhá, como Erosti mandou. Pensou. Uma
voz dizia para não entregar, mas, ao mesmo tempo, ela era tão fiel à sinhá, e
poderia ser algo importante… Chegou. A sinhá Marlene já irritada, perguntou por
que havia demorado tanto. Jara, desconfiada, engasgando a fala, não sabia o que
dizer. Até que… Entregou-lhe o bilhete, dizendo: “Sinhá, no banheiro, uma
mulher se aproximou de mim e me entregou isso…”. A sinhá curiosa já foi abrindo
o bilhete. Enfureceu-se quando leu: “SEU MALDITO CAPITÃO DO MATO ESTÁ
ENGRAÇANDO COM A SINHAZINHA MALU, FILHA DA GENOVA! ELES ANDAM SE ENCONTRANDO!”
Marlene arregalou os olhos, olhando para Jeroni… Ele, sem entender, olhava de
um lado pro outro procurando se tinha alguém atrás dele, pois aquele olhar não
parecia ser para ele. Marlene nunca o havia olhado daquele jeito. Ela o pegou
pelo braço, arrastou-o para mais longe e disse-lhe: “Isso aqui!? O que é
isso!?” Ele olhou, leu o bilhete e ficou pálido. Perdeu a cor. Não sabia o que
dizer. Quem poderia ter dito a ela? Quem poderia ter entregado aquele bilhete?
Jara começou a perceber que
talvez não fosse bom ter entregado o bilhete, pois nunca havia visto a sinhá
tão furiosa. Ela se arrependeu, mas já era tarde. A sinhá Marlene amassou o
bilhete e no caminho de casa vinha dizendo a Jeroni… “Em casa vamos conversar;
em casa vamos conversar…” Ele nada dizia e já, em sua cabeça, procurava arrumar
uma desculpa, dizer que não era verdade, qualquer coisa para não ter problemas,
mas não seria fácil, pois também ele andava muito feliz e a sinhá Marlene já
vinha desconfiada dele. Agora tudo iria fazer sentido. E seguiram para a
fazenda.
Chegando lá, Marlene
enfurecida, levou Jeroni para o quarto e, esbravejando, queria que ele lhe
desse explicações acerca disso que ela havia lido. Ele, ainda sem palavras, não
conseguiu mentir e falou a verdade. “Sim, é verdade. Tudo isso é verdade. Em
algum momento, você saberia disso. Então, acredito que esse seja o momento”.
Ela, ainda mais enfurecida, começou a atirar coisas nele e mandou-o ir embora
dali, mas antes, aprenderia uma boa lição, segundo ela. Então mandou chamar
seus dois capangas mais fortes para dar-lhe uma surra. Levou Jeroni para um
quarto e mandou chamar os dois capangas. A sorte de Jeroni é que ambos eram
muito amigos dele, e Marlene não sabia disso. Assim, eles entraram para surrar quem
ela havia mandado e se depararam com Jeroni. Combinaram entre eles e começaram
a bater nas coisas como se estivessem surrando-o, enquanto Jeroni gemia
fingindo sentir dor. Mas o problema era como ele sairia dali sem estar,
realmente, machucado? Sem estar inchado ou algo assim? Bom… Jeroni pediu que ao
menos um soco fosse dado e, muito a contragosto, Jemi (um dos dois capangas; o
outro se chamava Rufino) deu-lhe um soco. Jeroni saiu com a cara inchada e foi
arrumar suas coisas, enquanto a sinhá esbravejava pela casa toda… “Eu vou matar
aquela desgraçada, vou matar ela… saia da minha frente!” E esbofeteava quem
passasse perto dela. (Aqui se abre parênteses para relembrar que toda essa
amargura da sinhá Marlene vinha de muito tempo. Então, apesar de tudo, peço que
não tenham raiva dela ou qualquer coisa assim, mas apenas, compaixão.)
Jeroni não tinha para onde
ir. Foi então para a casa da Malu, ao que a situação iria se complicar ainda
mais, pois lá estava Erosti. A essa altura, a sinhá Genova já estava sabendo
que Malu estava se encontrando com Jeroni, pois ela mesma havia contado para a
mãe e esta teve uma primeira surpresa e irritação ao saber que a sua filha
estava namorando o feitor da fazenda da sua inimiga. Isso não lhe agradara em
nada, mas compreendeu, pois sentiu (como era sensitiva) a honestidade e as boas
intenções de Jeroni. Chegando lá, Malu não entendeu o que estava acontecendo.
Viu Jeroni com o olho inchado e já foi logo o colocando para dentro de casa,
enquanto a Voinha fazia um “amassado de ervas” para aplicar em cima do inchaço.
Já estava bem escuro e toda aquela movimentação na casa grande despertou a
atenção de Erosti, que foi lá ver o que estava acontecendo… Lá chegando,
deparou-se com Jeroni. O olhar de Erosti era de muita raiva. Queria “voar em
cima dele”, mas controlou-se, pois estava na frente da sinhá. Perguntou se
estava tudo bem e Malu disse que sim, dispensando-o, o que o deixou ainda mais
furioso.
Do outro lado, na outra
fazenda, a sinhá Marlene estava também furiosa, pois se sentia traída pelo seu
assistente de maior confiança, e ainda mais com quem? “Com a branquelinha
Malu!” Marlene, logo que amanheceu o dia, começou a “movimentar forças”, pois
não deixaria isso barato, segundo ela. Mandou chamar o Coronel, pediu-lhe ajuda
com a desculpa de que a “maldita Genova” estava aprontando das suas, mas, desta
vez, junto com a filha dela. Ela queria ajuda para invadir a fazenda e acertar
contas com Genova. Estava cega pelo inconformismo, pois não apenas perdera o
seu funcionário de maior confiança por quem também tinha sentimentos mais
profundos, como ouvira sempre da boca dos seus próprios escravos que gostariam
de estar na fazenda dela, da Genova (quando ouvia isso sempre os chicoteava).
Erosti também estava furioso. Naquelas
alturas, já sabia que o bilhete havia sido entregue, pois se Jeroni havia
chegado com o olho inchado, então ele fora colocado para fora pela sinhá
Marlene. Erosti foi atrás de Marlene para unir forças com ela, pois, para ele,
era mais do que um abuso perder a sua amada desta forma, e ainda ter o seu
“concorrente” dormindo “debaixo do mesmo teto”.
A essa altura, também os
escravos da Marlene já se moviam para começar uma rebelião dentro da fazenda.
Primeiro porque já não gostavam da Marlene, e segundo, porque ela havia
colocado Jeroni - de quem eles gostavam - para fora, e colocado no lugar dele
um carrasco. Planejavam atear fogo na casa grande. Erosti, já aliado da
Marlene, também planejava invadir a fazenda de Genova e pegar os escravos de lá
e trazer para a fazenda da sinhá Marlene e, de quebra, raptar a sinhazinha
Malu. Eram os planos de Erosti. Sem contar que a Marlene também queria atear
fogo na casa grande e causar a maior confusão lá, e ela acreditava que o
Coronel também estaria apoiando-a com a sua cavalaria armada.
Marlene confiando que teria
a ajuda do Coronel teve mais uma decepção, pois ele era apaixonado por Genova e
jamais a atacaria. Ficou mais furiosa ainda quando ouviu um “não” dele. Mesmo
assim, ela deu seu jeito e contratou homens para isso. Um dia antes da invasão
da Marlene, Genova pressentindo algo muito estranho, chamou Malu, Jeroni e a
Voinha para comentar que estava com uma sensação estranha, que não havia
dormido direito e estava com mau pressentimento. Todos a acalmaram dizendo que
estava tudo bem e que nada iria acontecer. Erosti, como combinado, permanecia
na fazenda de Genova, aguardando a cavalaria chegar - como se nada estivesse
acontecendo e como se nada estivesse sabendo - e planejava raptar Malu. A ideia
era que assim que a cavalaria começasse a invadir, enquanto todos estivessem
atordoados e confusos, ele, Erosti, pegaria Malu, à força e fugiria com ela, a
cavalo.
Oito horas da manhã, saiu a
cavalaria com os pistoleiros “armados até os dentes” em direção à fazenda da
Genova. Chegaram e já foram arrebentando as cercas e entrando. Os escravos
corriam de um lado para outro para se armarem como podiam. Gritos e gritos
despertaram a atenção de todos dentro da casa grande. Malu olhou pela janela e
gritou por Jeroni! “Amor! Invadiram! Invadiram! Mamãe! Proteja a mamãe! (Genova
estava adoentada de cama, ainda mais grave do que no momento anterior em que
esteve acamada.) Jeroni correu para o quarto dela e ela tentava se levantar
para saber o que estava acontecendo. Todos estavam atordoados sem saber o que
acontecia, quando começaram a ouvir tiros e gritos de todos do lado de fora. A
Voinha se escondeu debaixo da mesa e gritava pela “sua menina”. “Menina Malu!
Menina Malu!”
Começaram a se aproximar
mais. Os negros de Genova tentavam, a todo custo, parar aquela invasão, mas era
impossível, pois a cavalaria estava armada “até os dentes” e eles tinham paus e
pedras. Mesmo assim, conseguiram derrubar alguns da cavalaria, mas não o
bastante. Enquanto isso, no rápido momento em que Jeroni subiu ao quarto para
ver Genova, Erosti entrou na casa, amordaçou Malu e arrastou-a com ele, à
força, colocando-a a sua frente no cavalo e levando-a com ele. (Ele era um
homem muito forte, e ela muito delicada. Ela não tinha a menor chance em um
combate físico com ele.)
A Voinha, ainda embaixo da
mesa, gritava por Malu que fora raptada e, em alta velocidade, seguia com
Erosti, sem destino. Jeroni desceu e procurou por ela. Desesperado, saiu
gritando “Branca, Branca!” - (Como a chamava) - E nada! Não a achava em nenhum
lugar. A essa altura, Marlene já entrara na casa grande e procurava por Genova,
gritando. “Queridinha… Genova… Vim ver você!” E ria com raiva e ironia. A essa
altura, Genova que estava muito mal, já sabia mediunicamente tudo o que estava
acontecendo. Os mentores decidiram tirá-la do corpo. Genova não tinha carma
para morrer de tiro como Marlene queria. Então, quando Marlene entrou no
quarto, Genova olhou sorrindo para ela e deu o ultimo suspiro.
Marlene viu que ela havia
morrido, e ainda assim ficou indignada porque ela queria tê-la matado. (Essa
raiva da Marlene pela Genova não era apenas dessa vida. Elas haviam estado
juntas também no Egito, e ali foram irmãs em um determinado momento, e o pai
delas havia privilegiado mais Genova que, na época, se chamava Nefhari, e não a
Marlene que, na época, se chamava Atet-Mi. Ciúmes, pois, de fato, na época,
Atet-Mi era muito mais habilidosa com as lanças e adagas do que Nefhari, e o
pai delas, mesmo assim, consagrou Nefhari como chefe de segurança). Enfim, são
oportunidades para elevações. Tudo dentro de um plano maior. (Não vi quem era o
pai delas no Egito. Pai João de Enoque não me disse. Adianto que não era eu,
Amenophis III.)
Jeroni pegou um cavalo e foi
atrás de Malu, passando por aquela cavalaria toda. Os negros avisaram que a
viram com Erosti, a cavalo, saindo em disparada e apontaram o caminho. Enquanto
isso, alguns desses escravos eram também raptados para serem levados à fazenda
da Marlene. A essa altura, a fazenda da Marlene também estava com problemas… Os
escravos de lá começaram uma rebelião, ateando fogo na casa grande e começaram
a destruir tudo por lá. Marlene nem imaginava o que estava acontecendo do outro
lado: enquanto ela destruía uma fazenda, a sua também era colocada abaixo. A
essa altura, a Voinha também já havia sido morta. A maioria dos demais escravos
mais velhos também, pois Marlene queria apenas os mais novos e fortes. O negro
mentor Ajóh morreu com um sorriso no rosto, abençoando.
Jeroni, em disparada, seguia
a intuição e o coração para achar o caminho que Erosti fez levando Malu. Malu
tentava se soltar a todo custo do cavalo e, numa dessas, caíram os dois. Ela,
amarrada, tentava correr e ele a capturava novamente. Nisso, em um desses
momentos Erosti chorou, gritou e esbravejou: “O que ele tem!? Porque você nunca
me notou!? Eu amo você, desde sempre!” Malu sentia algo estranho naquelas
palavras, mas estava insegura, assustada, ainda mais nesse momento em que fora
raptada por ele e levada à força. A essa altura, enquanto ele esbravejava e ela
ouvia, ali, parados no meio do nada, ouviu-se a voz de Jeroni gritando: “Branca!
Branca! Branca!” E ela tentando tirar a mordaça e Erosti impedindo-a! Ao longe,
Jeroni viu a ambos, ela lutando contra ele. Jeroni acelerou enquanto Erosti
tentava colocá-la novamente no cavalo e ela resistia o quanto podia. Jeroni
chegou a tempo. Desceu do cavalo e entrou em luta física com Erosti. Apesar de
Erosti ser muito mais forte que Jeroni, em um momento de desequilíbrio, Erosti
caiu para trás, dando tempo de Jeroni acertar-lhe uma paulada. Não matou, mas
desacordou Erosti. Jeroni desamarrou Malu. Esta pegou o cavalo de Erosti e
Jeroni montou no dele, e saíram em disparada. Malu queria voltar para a
fazenda, mas Jeroni não deixou, gritando: “Morreram! Morreram, Branca!” E ela
sem querer aceitar: “Mamãe!” E ele: “Ela morreu, todos morreram, por aqui!” - E
tomaram outro rumo.
A essa altura, quase tudo na
fazenda da Genova estava destruído, e já começavam a retornar para a fazenda da
Marlene. Ao longe, Marlene viu a sua casa grande em chamas e mandou acelerar a
cavalaria. Não acreditou no que viu. Sim, tudo estava destruído. Também muitos
escravos haviam fugido e outros aguardavam por ela, já que só depois de um
tempo foram ver que ela não estava lá. (Quando ela foi em direção à casa de
Genova, saiu discretamente e encontrou-se com a cavalaria no meio do caminho
para não chamar muita atenção, mesmo.) Chegando lá, tentou parar a ação de
alguns escravos ali, exaltados ainda, mas já era tarde. Estavam destruídas a
fazenda, senzalas, casa grande, caldeiras de cana, tudo… Todo o trabalho
destruído. Marlene sentou-se onde conseguiu e chorou… Não tinha mais nada. Tudo
destruído. Toda a sua dor aumentada. Tudo, tudo levou a isso. Suas amarguras,
tristezas, enfim…
Malu e Jeroni fugiram para
bem longe. Ninguém nunca mais soube deles. Foram ajudados por pessoas de outras
regiões. Malu estava grávida, e nem sabia. Teve um bebê, uma menina a quem deu
o nome de Genova, o nome da sua mãe. Apesar da dor e da lembrança de tudo o que
havia acontecido, depois de meses tentaram voltar para ver o que restou. Estava
tudo “meio que” abandonado. Malu chorou tentando entender o porquê de tudo
aquilo. Jeroni a confortou. Olharam de longe. Não entraram e rapidamente
voltaram. Marlene tentou recomeçar, mas também não havia mais força e além do
mais, o Coronel a entregou às autoridades. Ela tentou fugir, mas foi presa.
Morreu na prisão.
(Lembrando que todos esses
acontecimentos não ocorreram em alguns dias, semanas, mas em alguns meses.)
Muita energia negativa ficou
pairando por ali, durante muito tempo. Essas fazendas ainda existem hoje, na
região da Bahia, obviamente com outras pessoas lá. (O Pai João de Enoque não me
diz exatamente onde é, mas se um dia ele me disser, quem sabe se não vou lá,
pessoalmente, bato fotos e mostro.)
Encarnações se passaram.
Essas almas encarnaram separadamente algumas vezes com outras missões, mas seus
corações sabiam que, em um determinado momento, retornariam juntas para a
finalização daquela velha energia e a restauração completa daquela linha. Linha
que não abrange somente esse momento específico, mas é uma abertura para a cura
de toda a velha energia escravocrata, trazendo iluminação e cura para quaisquer
resquícios passados dessas histórias de escravidão. Não se trata apenas dessa
situação aqui narrada que aconteceu, mas muitas outras semelhantes ou até
piores, e o tempo para sua iluminação completa está aqui! Esse tempo chegou! A
maioria daqueles dessa linha e de outras semelhantes a essa também estão hoje
encarnados. Os mentores programaram, em grande sincronicidade, para que a
maioria estivesse na mesma linha para a cura e a iluminação daquele momento.
Um movimento especial está
começando: um trabalho lindo irá iniciar para a cura, iluminação e restauração
das linhas passadas para uma reverberação positiva, hoje! Altera-se o passado,
e o futuro/presente recebe essa reverberação positiva! Os principais personagens
dessa linha de tempo específica estão encarnados hoje, e atuam dentro do PVSE.
Outros irão chegar para se juntar a esse movimento e formar um grande momentum
de energia de cura a ser reverberado para sempre nos corações de todos. Todos
nós tivemos vidas onde fomos escravos, capitães do mato, sinhás, sinhôs,
feitores, coronéis… E aqui está uma oportunidade para iluminações.
As duas representantes desse
trabalho específico dentro do PVSE, em sua ordem hierárquica e harmônica, por
força de compromissos anteriormente assumidos e pela necessidade própria
individual solicitada, e em comum acordo com o Alto Conselho Superior do PVSE a
bordo de uma das Naves do Comando, os dois pilares estão nessa ordem: Marlene
(Primeira Representante do Movimento) e Genova (Segunda Representante do
Movimento). Assim, as duas sustentam e reverberam a força para os demais que
chegam, somando a esse momento de iluminação. Não há superiores nem inferiores
aqui, melhores nem piores. Isso é assim por força de compromisso. Todos citados
e não citados nesta linha, afinados ou não com este relato, podem se juntar
amorosamente, e ajudar na sustentação luminosa dessa força que irá reverberar
por todo o planeta, chegando às áreas onde campos mórficos dessas velhas
energias precisam de cura. E receberão essas curas. É um trabalho de todos nós,
como Trabalhadores e Guerreiros da Luz.
Que a Luz Maior esteja com
todos nós, nesse trabalho. Como já foi dito, todos aqueles que se afinam e
desejam ajudar neste trabalho, acompanhem as meditações e chamadas que serão
anunciadas na Página e/ou outros meios de interação criados em harmonia, a
princípio, por Marlene, em comum acordo com Genova, tendo seus imediatos
primeiros, Erosti e Jara.
Uma página oficial poderá
ser criada, como já foi dito, e quando o for, os links de contato estarão
disponíveis no link, a seguir:
Um Símbolo Especial desse
movimento foi canalizado por mim, (Gabriel), e este representa esse movimento
de cura. Canalizado também para ajudar na sustentação da Luz e invocação dos
Pretos Velhos e Pretas Velhas de Luz Prateada, bastando desenhá-lo no ar, ou
mesmo visualizá-lo, enquanto invoca as forças para esta iluminação. É o mesmo
que ilustra essa publicação.
Queridos personagens dessa
linha de tempo, sejam todos muito bem-vindos! Que esse reencontro marque a
força da Unificação e Iluminação! Eu fico sempre muito honrado em poder ser o
transmissor dessas histórias reais e lhes dar a oportunidade de saberem um
pouco mais do seu passado, neste Planeta. Que Jesus possa continuar me
abençoando para que também eu possa abençoar a quantos puder, através de
informações que venham a ajudar, cada vez mais, a Unificação dos Povos e a
Iluminação das Consciências! Graças a Deus!
Pela Verdade, nada mais que
a Verdade,
Em Amor e Bênçãos,
Gabriel RL
Em uma nota final, meus
queridos! Algumas pessoas estão criando páginas usando os nomes de alguns
relatos que estou trazendo, dizendo serem elas os representantes desses
movimentos. Alerto que todas as páginas oficiais desses movimentos ficam
disponíveis no link a seguir, e por qualquer uma que NÃO esteja nessa lista, eu
não me responsabilizo pelas informações entregues:
http://www.sementesdasestrelas.com.br/2016/11/pleiades-1-chamada-aos.html.
Fonte: Sementes das Estrelas
Bênçãos de Amor e Luz
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