Pema Chödrön
“Normalmente vemos a solidão
como um inimigo. Ela é inquieta, fértil e ardente pelo desejo de escapar e
encontrar alguma coisa ou alguém... Quando conseguimos repousar no caminho do
meio, começamos a ter um relacionamento não ameaçador com ela”
Não há ponto de referência
no caminho do meio.
Quando não escolhemos uma
direção, temos a sensação de estar em uma clínica de desintoxicação.
Sentimos a angústia da
abstinência, com toda a irritação que temos tentado evitar por meio de nosso
padrão habitual.
No entanto, anos e anos de
virar para um lado ou para o outro, de escolher sim ou não, de dizer certo ou
errado nunca mudaram, de fato, coisa alguma.
Lutar por segurança nunca
trouxe nada além de alegria momentânea.
Esse processo (doloroso de
sair do aprisionamento para a liberdade) exige enorme coragem, ...
Queremos viver felizes para
sempre.
NOSSO DIREITO INATO: O
CAMINHO DO MEIO
Não apenas buscamos uma
solução – achamos que a merecemos – sofremos por causa dela. Não desejamos
sentar e experimentar o que estamos sentindo. Não queremos passar pela
desintoxicação.
Mas é exatamente isso que o
caminho do meio nos encoraja a fazer.
A meditação nos fornece um
método para treinarmos no caminho do meio – para estarmos exatamente ali,
naquele lugar - somos encorajados a nem mesmo agarrar qualquer coisa que surja
em nossa mente.
Essa disciplina direta nos
leva a parar de lutar e a descobrir uma disposição nova e imparcial.
Existem seis atitudes para
descrever esse tipo de solidão refrescante: desejar menos, contentar-se, evitar
a atividade desnecessária, ter total disciplina, não vagar pelo mundo do desejo
e não buscar segurança no mundo dos pensamentos discursivos.
DESEJAR MENOS
Desejar menos é a disposição
para estar solitário sem buscar uma solução, quando tudo em nós anseia por algo
que nos anime e mude nosso estado de espírito. Assim, o Caminho Do Guerreiro
consiste em, diante da intensa solidão, conseguir sentar com essa inquietação
durante 1,6 segundo, enquanto que, no dia anterior, era impossível estar com
ela durante um único segundo.
Esse é o caminho da coragem.
Quanto menos nos dispersamos e enlouquecemos, mais saboreamos a satisfação da
solidão refrescante.
CONTENTAMENTO
Contentar-se é o segundo
tipo de solidão. Quando não temos nada, não temos nada a perder - a não ser
nosso forte condicionamento para achar que temos muito a perder. Essa sensação
tem suas raízes no medo – medo da solidão, da mudança, de tudo que não pode ser
solucionado, da não existência.
Contentamento é sinônimo de
solidão tranquila, de acomodar-se na solidão refrescante.
Desistir de acreditar que
somos capazes de fugir de nossa solidão.
Podemos ser simplesmente
solitários, sem alternativas, satisfeitos por estarmos exatamente ali, na
qualidade e textura do que está acontecendo.
EVITAR ATIVIDADES
DESNECESSÁRIAS
Uma maneira de nos mantermos
ocupados para não termos de sentir nenhuma dor. Esse processo pode assumir a
forma de fantasiar obsessivamente o amor verdadeiro, ou ainda de fugir sozinho
para o deserto. Não poderíamos apenas nos aquietar e mostrar algum respeito e
compaixão diante de nós mesmos?
COMPLETA DISCIPLINA
Outro componente da solidão
refrescante é a disciplina total - simplesmente voltar com suavidade para o
momento presente. Estamos dispostos a sentar quietos, - para perceber como as
coisas realmente são - isso nos permite finalmente descobrir uma maneira de ser
totalmente desconstruída.
NÃO VAGAR PELO MUNDO DO
DESEJO
Vagar pelo mundo do desejo
envolve procurar alternativas, buscar algo que nos conforte – comida, bebidas,
pessoas.
Não vagar pelo mundo do
desejo tem a ver com relacionar-se diretamente com as situações, do modo como
são.
A solidão não é um problema.
NÃO BUSCAR SEGURANÇA NOS
PENSAMENTOS DISCURSIVOS
Na solidão refrescante, não
esperamos que nossa tagarelice interior nos traga segurança. Somos encorajados
a apenas tocar essa tagarelice e a permitir que se vá... olhar honestamente e
sem agressão para nossa própria mente - com humor e compaixão, para aquilo que
somos.
Então, a solidão não
representa mais ameaça e a melancolia deixa de ser punição.
A solidão refrescante não
nos fornece soluções e não nos dá um apoio. Ela nos desafia a entrar em um
mundo onde não existe ponto de referência, sem polarizá-lo e sem cristalizá-lo.
Esse Processo É Chamado
Caminho Do Meio Ou A Trilha Sagrada Do Guerreiro.
Você saberia aproveitar essa
oportunidade de ouro, quando acordar pela manhã e, de repente, começar o
sofrimento da alienação e solidão? Em vez de se atormentar ou sentir que algo
terrivelmente errado está acontecendo, exatamente ali, no momento da tristeza e
da saudade, poderia relaxar e tocar o espaço ilimitado do Coração Humano?
Experimente...
Fonte:
Resumo Vilma Capuano
Trecho do livro “Quando tudo
se desfaz” de Pëma Chödrön/
Bênçãos de Amor e Luz
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